---- Capitulo 5 A mãe de Marilia faleceu ha uma semana. Ela tinha cancer cerebral em estagio terminal. Mesmo com Gabriel providenciando a melhor equipe médica e internando-a no melhor hospital, a doenga avancava implacavelmente. O tempo em que permanecia lúcida se tornava cada vez mais curto. Havia dias em que nem sequer reconhecia a propria filha. O médico responsavel alertou: nao havia mais tempo. A cirurgia precisava ser feita imediatamente. Caso contrario, sua mae nao sobreviveria mais uma semana. Marilia ficou sem chao. Pegou o celular e ligou para Gabriel. Ele nao atendeu. Ligou de novo. Nada. Na terceira tentativa, a chamada foi rejeitada. ---- Na quarta, ele finalmente atendeu. Para despejar um sermao cruel: - Para de me ligar! Nao vé que estou ocupado? Fica me atrapalhando por qué?! A ligacao foi cortada. O médico, ciente de que Marilia era Sra. Macedo, sugeriu que Gabriel usasse sua influéncia para trazer especialistas internacionais e organizar uma conferéncia médica com os melhores cirurgides de Cavéria. Isso aumentaria as chances de sucesso da operação. Marília agradeceu, depois sentou-se no corredor do hospital. Apertou o celular nas mãos. E esperou. Um minuto. Dois. Uma hora. Esperou até às seis da tarde, horário em que Gabriel costumava sair do trabalho. Com um nó na garganta, tentou ligar de novo. ---- Sem resposta. Talvez estivesse ocupado. Ela poderia esperar um pouco mais. Esperou até meia-noite. Ligou de novo. Mas o celular ja nao chamava mais. Ele a bloqueou. Nos sete dias seguintes, Gabriel nao voltou para casa uma tinica vez. Seus telefonemas foram ignorados. Suas mensagens nao tiveram resposta. E assim, o tempo acabou. Sua mae perdeu a ultima chance de sobreviver. Gabriel estava tao ocupado assim? Tao ocupado que nao podia atender uma tinica ligação dela? Mas teve tempo para escolher um presente para Dalia. Teve tempo para encomendar um bolo para o aniversario dela. ---- Marilia parou de pensar. Se continuasse, talvez nao conseguisse se manter de pé. Apertou os dedos trémulos ao redor dos papéis do divorcio. E saiu do escritério sem olhar para tras. Na hora do almoco, Juli preparou uma refei¢ao farta. Clarisse, que sempre aparecia quando sentia cheiro de comida, mal sentou a mesa e ja comegou a provocar. - Ué, Marilia, nao era vocé que cozinhava antes? Hoje resolveu dar uma de madame? Ou sera que nao quer cozinhar porque a Dalia esta aqui? Oclima pesou. Gabriel langou um olhar frio para Marilia, esperando uma explicacao. Que ironia. Como esposa, ela nao tinha o direito de se recusar a cozinhar para a outra mulher dele. ---- - Meus pratos costumam ser muito apimentados. - respondeu baixando os olhos. - Srta. Dalia prefere comidas mais leves. Nao queria fazer algo que ela nao gostasse. - Era só nao colocar pimenta! - Clarisse insistiu, emburrada. - Clarisse, nao precisa ser tao dura com a sua cunhada. - Dalia interveio, gentil. - Além do mais, a comida da Juli esta 6tima... Ela parou de falar de repente. Seu rosto se contraiu. Os dedos seguraram o est6mago. - Ah... Dalia gemeu baixinho, o rosto palido e angelical, os olhos tremendo de dor. - Dalia! O que houve?! - Gabriel se levantou na mesma hora, segurando-a nos bracos. - Gabi... dói... - sussurrou, fragil, derretendo-se contra o peito dele. ---- Gabriel franziu a testa. - Mas como assim? Vocé estava bem até agora... Clarisse, que observava a cena, de repente arregalou os olhos, como se tivesse acabado de resolver um grande mistério. Virou-se para Marilia e apontou o dedo acusadoramente. - Ah! Agora tudo faz sentido! Vocé envenenou a comida da Dalia! Por isso nao quis cozinhar hoje, ficou com medo de ser pega!
