---- Capitulo 17 No mundo, talvez nao haja dor maior do que finalmente alcangar o sucesso, mas a tinica pessoa que vocé queria retribuir... já nao estar mais aqui. Sempre que falava sobre a irma, os olhos de Elisabete se enchiam de lagrimas. A perda de Graca Moreira deixou nela um vazio irreparavel, um arrependimento eterno. Mas, apesar da dor, sua irmã deixou um pedago dela no mundo. Deixou Marilia. - Quando eu era pequena, meus pais só pagavam os estudos para aquele inttil do meu irmão. Para mim, diziam que mulher nao precisava estudar. Avoz da tia tremia. - Eu me recusei a aceitar isso. Mas, quando insisti em continuar estudando, eles cortaram minha mesada e se recusaram a pagar minhas mensalidades. Os olhos de Elisabete ficaram vermelhos. ---- - Foi minha irma quem me sustentou. Ela engoliu seco. - Trabalhava dobrado, fazia varios bicos para conseguir juntar dinheiro... e me mandava tudo, escondido. Marilia sentiu um nó na garganta. - Para mim, minha irma nao foi só uma irma. Apertou a mao de Marilia. - Ela foi minha mae. As palavras seguintes vieram firmes, sem espaço para dúvidas: - E você, Marília, não é uma estranha. Seus olhos eram gentis, mas cheios de determinação. - Eu não tive filhos. - Então, você é minha filha. Ela sorriu. - Esta casa é sua. ---- - Se quiser algo, basta pedir. E, com um tom brincalhao, completou: - Nem que seja uma estrela do céu, eu dou um jeito de buscar para vocé. O peito de Marilia aqueceu. Foi uma sensacao nova, mas profundamente reconfortante. O tipo de amor que nunca sentiu antes. O tipo de amor que nao vinha com dor ou humilhagao. Por anos, sua tia lutou para recomegar. Agora, era sua vez. Ela também poderia comegar de novo. Ser forte. Ser independente. Construir uma nova vida para si. Inspirada pelo calor da familia que encontrou, ergueu os olhos com determinagao. ---- - Quero fazer minha exposição. Os olhos de Elisabete brilharam. Mas, antes que dissesse algo, Marilia continuou: - Mas quero pagar pelos custos. Havia firmeza em sua voz. - Ja sou adulta. Sei que somos uma familia, mas ainda assim... se eu nao bancar isso, me sentirei culpada. - Entao, veja isso como um empréstimo. Quando eu vender minhas pinturas, vou devolver cada centavo. Elisabete sorriu. - Isso sim é a minha sobrinha! O marido dela, que até entao apenas observava, riu. - Marilia, suas pinturas sao incriveis. Tenho certeza de que venderao muito bem. - Vocé tem um talento impressionante. Os olhos dele eram cheios de confianga. ---- - E tenho certeza de que sera uma grande artista. Com o apoio de sua tia e do marido dela, Marilia realizou sua primeira exposi¢ao. Nos dias que antecederam o evento, a ansiedade tomou conta. A cada noite sem dormir, seus cabelos caíam aos montes no travesseiro. E se ninguém aparecesse? E se suas obras nao fossem boas o suficiente? No fundo, ainda era uma desconhecida. Desde que se casou, nao fez nenhuma exposi¢ao. Nunca vendeu um tnico quadro. Sequer tinha um nome no meio artistico. Como alguém assim poderia ter sucesso? Mas, para sua surpresa... Ela subestimou a influéncia de sua tia e do marido. No dia da inaugura¢ao, os mais influentes da alta ---- sociedade compareceram. O evento foi sofisticado, elegante. As pinturas, amplamente elogiadas. Antes mesmo de perceber, ja havia vendido varias obras por preços altissimos. Elisabete se aproximou com um sorriso. - Va cumprimentar um comprador. Ela apontou discretamente para um homem de terno preto, alto e de feições refinadas. - Ele se chama Giano Bosque. Um magnata da joalheria. Onome nao era estranho. Ja ouvira falar dele antes. Elisabete entao sussurrou algo que fez os olhos de Marilia se arregalarem. - Ele comprou cinco dos seus quadros. Marilia piscou, ainda sem entender. ---- Foi entao que sua tia levantou cinco dedos no ar. E, num sussurro quase travesso, acrescentou: - Meio milhao de dólares cada. Um choque percorreu sua espinha. meio milhao de dolares. Suas mãos tremeram. Ela jamais imaginou que suas pinturas poderiam ser vendidas por um valor tao alto.
