---- Capitulo 18 Ohomem que, sem hesitar, comprou cinco quadros por meio milhao de dolares cada, definitivamente merecia uma saudação. Seria grosseiro ignora-lo. Por isso, acompanhada da tia, Marilia caminhou até ele. - Ha quanto tempo - cumprimentou Elisabete, sorrindo com familiaridade. Ficava claro que ja o conhecia. - Nao imaginei que um homem tao ocupado como vocé teria tempo para prestigiar minha sobrinha. Giano Bosque sorriu levemente. - Coincidiu com um dia de folga. O tom dele era tranquilo, sem pressa. - Esta é minha sobrinha, Marilia - apresentou Elisabete. O orgulho era perceptivel em sua voz. ---- - Umaartista de talento. Todas as pinturas desta exposicao sao dela. Marilia ficou sem graça com o elogio exagerado. Suas bochechas esquentaram. - Tia, nao exagera... Baixou o olhar, um pouco embaracada. - Eu só pinto por hobby. Giano riu. - Mas ha talento, sem diivida. Olhou para um dos quadros atras dele. Uma pintura de montanhas. - Esta, por exemplo. Embora retrate montanhas e use tons quentes, transmite um sentimento de vastidao e solidao. Seus olhos vagaram pela tela. - Tem um toque de melancolia, de isolamento. Marilia ficou surpresa. ---- Ela nao esperava que ele entendesse tao bem o que estava por tras de sua arte. De fato, suas pinturas eram sempre assim. Cores vibrantes, expressivas... Mas, se olhasse com atencao, o que estava por tras nao era alegria. Era solidao. Como diz aquela misica... Quanto mais barulho, mais solidao. Quanto mais brilho, mais vazio. O mundo estava cheio de pessoas indo e vindo. Mas, no fundo, ninguém realmente se conectava. Cada um preso na propria ilha solitaria. Ela sempre sentiu isso. Quanto mais cercada de gente estava, mais sozinha se sentia. Foi tirada de seus pensamentos pela voz de Giano. ---- - Dizem que cada quadro expressa um momento da alma do artista. Ele voltou a encara-la. - Mas, no seu caso, parece que todas as suas pinturas carregam essa mesma sensa¢ao. Seus olhos eram profundos e analiticos. - Vocé é tao jovem, tao bonita. Mas por que sua arte carrega tanta solidao? Seus olhos eram perigosos. Giano era o tipo de homem que, ao te encarar, parecia enxergar além da pele. Parecia ler sua alma. Isso a incomodava. Marilia desviou o olhar. - Também ouvi dizer que compradores pagam caro por certas pinturas porque se identificam com a emocao que elas transmitem. Ela jogou a pergunta de volta. ---- - Osenhor também nao parece velho. Virou-se levemente para encara-lo. - É jovem, bem-sucedido, bonito. O canto de seus lábios se ergueu num sorriso provocador. - Então por que gastaria tanto dinheiro em algo tão triste? Ela se recusava a ser analisada. Se ele queria cavar sua alma, teria que se expor também. Antes, teria ficado ansiosa. Tentaria contornar a situação para não desagradar. Antes, teria medo de ser mal interpretada. Mas agora, não. Ela não tinha mais medo de desagradar ninguém. Se esse tal de Giano se ofendesse, problema dele. No mínimo, a conversa acabaria mais rápido. ---- Mas, para sua surpresa... Ele nao pareceu irritado. Giano sorriu. Com elegancia e calma. - Agradeco o elogio. Ela piscou. - Oqué? Sem pensar, as palavras escaparam antes que pudesse conté-las. - Eu nao te elogiei. O sorriso de Giano se aprofundou. Seus olhos brilharam com diversao. - Tem certeza? - Vocé acabou de dizer. Inclinou ligeiramente a cabeca. - Jovem, bonito, bem-sucedido. O olhar dele era cheio de charme.
