---- Capitulo 8 Marilia passou um dia e uma noite inteira deitada, o corpo exausto. Mas hoje... era o dia da sua partida. As sete da noite, seu voo partiria. E uma vez dentro daquele aviao, nunca mais voltaria. Assim que os primeiros raios de sol iluminaram o céu, ela se levantou. Organizou suas coisas e doou tudo para um orfanato. Entre os itens doados estavam todos os presentes que Gabriel ja lhe dera: roupas, bolsas, joias... Até mesmo a alianca de casamento. Os itens valiosos foram enviados para caridade. Os sem valor... ela queimou. Se iria recomegar, faria isso da maneira correta. Limpa. Sem rastros. Sem lembrangas. Quando terminou, ja era tarde. ---- Ela olhou o celular. Trés da tarde. Faltavam apenas quatro horas para sua liberdade. Estava prestes a trocar de roupa e sair, quando Clarisse apareceu em seu caminho. - Onde pensa que vai? - Clarisse bufou. - Anda, venha comigo. Vamos arrumar vocé. - Arrumar? - Marilia franziu a testa. - Para qué? Clarisse revirou os olhos. - Para de fingir. Hoje é seu aniversario de casamento, esqueceu? Aniversario de casamento...? - Meu irmão me disse que, quando se casaram, nao puderam fazer uma cerim6nia por causa dos meus pais. E agora, depois de tudo, ele quer compensar vocé. Os olhos de Marilia se estreitaram. Mentira. Isso definitivamente era um golpe. Cinco anos de casamento. Cinco anos. ---- E Gabriel nunca mencionou nada sobre um casamento formal. Agora, de repente, queria fazer uma ceriménia? No exato dia em que ela estava prestes a ir embora? - Nao acredita em mim? - Clarisse zombou. - Otimo. Liga para ele e pergunta. Ela pegou o celular, discou o ntimero de Gabriel e jogou o celular nas mãos de Marilia. A ligacao foi atendida rapidamente. A voz de Gabriel veio do outro lado da linha. - Marilia, eu soube sobre sua mae... - A voz dele era baixa, quase... gentil. - Sei que tem sido dificil para vocé. Quero consertar isso. Falso. Tao falso que doia. Gabriel nao falava assim com ela. Ele nunca falava assim. - Eu ja providenciei tudo. Vista-se e venha. ---- - Nos vemos no altar. Marilia estremeceu. Isso era uma armadilha. Mas para qué? O que Gabriel realmente queria? Ela sabia que era mentira. Sabia que nao era amada. Mas, quando vestiu o vestido de noiva feito sob medida por Gabriel, seu coração fraquejou. E se, por algum milagre, fosse verdade? Ela tinha que conferir. Tinha que ver com os proprios olhos. Afinal, ja sofreu tanto... nao merecia ganhar pelo menos uma vez? Por mais improvavel que fosse, ela decidiu arriscar. - Que seja. - pensou. - Ainda ha tempo. As quatro horas, sua maquiagem estava pronta. As cinco, chegou ao local da ceriménia. ---- E assim que empurrou as portas do salao... Uma enxurrada de agua gelada caiu sobre sua cabeca. O choque foi imediato. Gritos e risadas explodiram ao seu redor. Clarisse gargalhava tanto que as lagrimas escorriam pelo rosto. - HAHAHAHAHAHA! Vocé caiu direitinho! Ela segurou o est6mago, dobrando-se de tanto rir. - Vocé realmente achou que meu irmao ia te dar uma segunda chance? Que ridicula! A voz dela reverberou pelo salao. - Hoje nao é o seu casamento, imbecil. - Hoje é o aniversario da Dalia! O salao estava lotado. Cheio de gente. Todos ali para celebrar o aniversario de Dalia. ---- Eno centro de tudo, estava ela. Dalia. Vestida exatamente como Marilia. Com um vestido idéntico. Mas seco. Intacto. Perfeito. Clarisse sorriu, cheia de malicia. - Lindo, nao é? Esse vestido foi feito sob medida para Dalia. Gabriel planejou tudo. Hoje, ele vai pedi-la em casamento. Cada palavra era como uma faca cravando no peito de Marilia. Clarisse se aproximou, seu tom cheio de escarnio. - Vocé nunca passou de um estorvo na histéria deles. Só uma figurante. Agora, saia por aquela porta antes que meu irmao te expulse de uma forma ainda mais humilhante. Marilia tocou o proprio rosto. Estava chorando. Ela riu baixinho. ---- Por que estava chorando? Ela ja sabia que era uma armadilha. Ela ja sabia que nunca foi amada. Ela ja deveria ter aprendido. Mas mesmo assim... caiu. Ela se virou. E correu. Saiu do salao sem olhar para tras, sufocada, os olhos embagados. Ela pegou um taxi. Chegou ao aeroporto. Correu para o banheiro. E comecou a arrancar o vestido. - Tira. Cada pedaco daquela maldita roupa parecia sufoca-la. Ela rasgou o tecido com fúria, puxando até que se desfez em pedacos. Atirou os destrocos brancos no chao sujo do banheiro. Pegou uma longa saia preta de sua bolsa e vestiu. ---- Seu celular vibrava sem parar. Ela pegou e viu o nome "Gabriel" piscando na tela. Chamadas perdidas. Trinta. Quarenta. Desde o momento em que entrou no taxi, ele nao parou de ligar. O celular continuou vibrando. Gabriel ainda estava ligando. Entao, pegou o chip e o quebrou ao meio. Jogou-o no lixo. Fim. Ela pegou a passagem. Passou pela seguranca. E embarcou. O avião comecou a taxiar na pista. Quando percebeu que nunca mais voltaria, pegou o ---- celular e apagou todas as suas redes sociais. Todas as fotos. Todos os rastros. Tudo. A aeromoga pediu que desligasse o celular. Ela sorriu. E fez exatamente isso. No mesmo instante em que a tela ficou preta, o aviao decolou. Ela se recostou na poltrona, fechando os olhos. "Gabriel. Nao vou me despedir. Porque desejo, do fundo do coração, que nunca mais nos encontremos."
