---- Capitulo 3 O colar era lindo. Um raro diamante vermelho, incrustado em platina em formato de coração. Um simbolo de um amor unico. Pena que esse amor nao era para ela. - Nao precisa. - Marilia recusou com um sorriso gentil. - Foi um presente do Gabriel para vocé. Como poderia aceitar algo assim? O que nao era dela, ela nao queria. Nem o colar. Nem o homem que o deu. - Para de fazer esse drama! - De repente, Gabriel explodiu. - Esqueci seu aniversario porque estava ocupado com o trabalho, e dai? Qual é o problema? Vocé precisa mesmo fazer esse teatro todo? Marilia piscou, sem entender o que tinha feito de errado. Ela nao chorou, nao gritou, nao reclamou. Apenas ---- lidou com a situação de forma educada, sem causar confusao... Entao por que ele continuava insatisfeito? - Nao estou fazendo drama. - Sua voz saiu baixa, cansada. Ela abaixou os olhos, como se estivesse exausta até de olhar para ele. - Gabriel, o que vocé quer que eu faça? Que aceite o colar? Se for isso, entao tudo bem. Ela estendeu a mao e pegou o colar. Depois, voltou-se para Dalia e sorriu. - Srta. Dalia, obrigada pelo presente. Ela estava sendo obediente. Estava colaborando. Estava, acima de tudo, preservando o orgulho de Gabriel. Mas, por alguma razao, isso o irritou ainda mais. - Vocé é simplesmente impossivel! - Ele bufou, furioso. E, sem dizer mais nada, bateu a porta ao sair. Marilia ficou parada ali. ---- Se aceitasse o colar, ele se irritava. Se recusasse, ele também se irritava. Naquele momento, finalmente entendeu. O problema nunca foi o colar. Nao importava o que fizesse, ele nunca ficaria satisfeito. Os favoritos sempre tinham privilégios. Já os descartaveis... nao importava o que fizessem, sempre estariam errados. O bolo que sua tia enviou era enorme. Mas ninguém quis dividir com ela. Marilia nao queria desperdicar o gesto carinhoso da tia, entao forçou-se a comer sozinha. Cinco camadas de bolo. Quando terminou, estava enjoada. Trancou-se no banheiro e vomitou por um longo tempo. Que piada... ---- Sentada no chao frio, ela riu entre lagrimas silenciosas. Quando crianga, nao tinha dinheiro para comprar bolo. Passava os aniversarios olhando através do vidro da confeitaria, imaginando o sabor daqueles doces inacessiveis. Agora, tinha bolo de sobra. Mas nao fazia diferenca. Algumas coisas, quando vém tarde demais, ja perderam o significado. Ao anoitecer, recolheu suas coisas e saiu do quarto principal. A "dona" havia voltado. E uma substituta precisava saber seu lugar. Enquanto carregava a bagagem, Dalia saiu do quarto ao lado. Usava uma camisola curta e reveladora. Ombros expostos, pernas a mostra. Uma cena ensaiada. ---- - Marilia, nao entenda mal. Gabriel nao voltou para o quarto porque ainda esta chateado. - A voz dela era doce, quase inocente. - Mas nao precisa se preocupar, nao fizemos nada. Só jogamos cartas. Marilia sorriu. - Nao precisa se explicar. Mesmo que tivessem feito, nao era mais da sua conta. O divércio ja estava decidido. Amanhã, ela daria um jeito de colocar aqueles papéis na frente de Gabriel. - Vocé realmente me entendeu errado... - Dalia mordeu o labio, com uma expressao de falsa angtistia. - Eue Gabriel... Antes que ela pudesse continuar, Marilia a interrompeu com um sorriso leve. - Eu sei. Vocé e Gabriel cresceram juntos, sempre foram muito proximos. Agora que voltou depois de tanto tempo, devem ter muitas coisas para conversar. Fez uma pausa e entao completou, com um tom calmo: - Então, conversem a vontade. Nao vou atrapalhar. ---- Virou-se e saiu sem hesitar. Dalia ficou ali, parada, observando-a por um longo tempo, os olhos cintilando com um significado impossivel de decifrar.