---- Capitulo 15 Nos meses seguintes, Gabriel mergulhou em uma busca frenética por Marilia. Visitou sua cidade natal. Falou com seus antigos professores, colegas, vizinhos... Tentava desesperadamente encontrar qualquer pista sobre ela. E, pela primeira vez, comecou a realmente conhecé-la. Descobriu que ela cresceu sem pai, abandonada quando ainda era uma crianga. Sempre teve uma terrivel falta de seguranca. E por nunca ter recebido amor, aprendeu a agradar os outros para ser aceita. Seu siléncio, sua paciéncia, sua tolerancia... Nunca foram por amor. Foram porque a vida ja tinha sido cruel demais com ela. Ela simplesmente aprendeu a suportar. ---- Mas, apesar de tudo, Marilia sempre foi bondosa. Depois que se casaram, fazia doações mensais para o orfanato. E ainda reservava tempo toda semana para trabalhar como voluntaria. As criangas a adoravam. Quando foi ao orfanato, ouviu uma menina dizer, sorrindo enquanto pintava: - A irmã Marilia ama azul! Porque é a cor do mar! Ela disse que gosta do oceano, porque o oceano representa liberdade e romance! Gabriel sentiu um aperto no peito. Até as criangas sabiam disso. Mas ele... Nao sabia. Dalia estava certa. Ele nunca soube o que era amor. Gabriel vasculhou todos os litorais de Cavéria. ---- Cada pedaco de areia, cada praia, cada cais. Mas nao havia sinal de Marilia. E quanto mais buscava, mais o medo crescia. Ese ela... Nao estivesse mais viva? Porque, se ainda estivesse... Por que nao havia deixado rastro algum? Antes de partir, ela não só doou todas as coisas de valor... Mas queimou o que restava. Nada foi deixado para tras. O desespero apertou seu peito. A dor era cortante. Ele pressionou a mao contra o coração, tentando respirar. - Marilia... Um riso amargo escapou de seus labios. - Como pode ser tao cruel? ---- Os olhos ficaram timidos. - Vocé queimou tudo. Avoz falhou. - Nem um fio de cabelo deixou para tras. Acasa onde viveram juntos por cinco anos. Antes, tudo ali tinha sua presenga. Agora, nao restava nada. Nenhuma foto. Nenhum perfume. Nenhum vestigio. Ela simplesmente apagou sua existéncia. Gabriel fechou os olhos, o peito subindo e descendo de forma irregular. - Marilia... vocé foi cruel. As lagrimas cairam. Ele riu. - Mas, por mais cruel que tenha sido... Engoliu seco. ---- - Nao posso te culpar. Porque ele merecia. Cada segundo de sofrimento. Ele sabia o que fez quando ela mais precisou dele. Sabia exatamente o que fez. Marilia havia perdido a mae. Eo que ele fez? Trouxe Dalia para dentro de casa. Obrigou Marilia a limpar o quarto dela. Fez com que tomasse um remédio que a fez se contorcer de dor. Ele foi um monstro. Mais do que isso... Foi um lixo de ser humano. Arisada veio como um surto. - Hahaha Ele gargalhava como um louco. ---- As lagrimas escorriam sem controle. A voz rouca, dilacerada: - Gabriel... Ele puxou os cabelos, o peito arfando. - Merceu! Dalia estava certa. Ele mereceu cada pedaço dessa dor.