---- Capitulo 21 A exposicao de Marilia foi um sucesso absoluto. No dia do evento, nao só a elite da sociedade compareceu, mas também diversos veiculos de imprensa, garantindo uma ampla cobertura. No dia seguinte, sua arte dominava as colunas culturais dos jornais e sites. E um dos titulos mais chamativos? "A nova estrela em ascensao no mundo da arte." - Esse jornalista sabe o que fala! - exclamou Elisabete, segurando o celular e relendo a matéria. Ela sorriu com orgulho. - Nossa Marilia é cheia de talento! Cada pintura dela tem vida propria. - Eclaro que ela é a novaestrela da arte contempordanea! Marilia riu, meio sem graça. O entusiasmo da tia era contagiante. ---- Mas, no fundo, isso ainda parecia um sonho. Ela nunca foi tratada assim. Naquele pais, porém, as coisas eram diferentes. La, as pessoas incentivavam em vez de criticar. Desde pequenos, os filhos eram encorajados. Até quando erravam, os pais comegavam elogiando. "Vocé tentou muito bem!" "Que coragem de se arriscar assim!" E só depois disso, explicavam o erro. Elisabete, vivendo tantos anos naquele meio, foi influenciada. Agora, qualquer coisa que Marilia fizesse era motivo de elogios. Se cozinhava, era melhor que um chef Michelin. Se limpava a casa, fazia isso mais rapido que qualquer profissional. E se simplesmente estava sentada... - Olha essa postura! Que classe! Como eu! ---- Marilia piscou, incrédula. Entao, bastava existir para ser elogiada? Parecia surreal. Mas, de alguma forma, aquilo fazia bem. Porque, por toda a vida... Ela só havia sido diminuida. A mae a amava profundamente, mas nunca teve tempo ou energia para lhe dar encorajamento. A tinica coisa que podia oferecer era sobrevivéncia. E isso ja Ihe custava todas as forças. Depois, veio o casamento. E com ele, a familia Macedo. LA, tudo era o contrario. Nada do que ela fazia era suficiente. Se cozinhava, estava sem tempero. Se se vestia bem, estava exagerada. Se falava pouco, era fria. Se tentava se enturmar, era forçada. Ela nunca seria aceita. ---- Nem pela sogra, que sempre a olhava com desprezo. Nem pelo sogro, que nunca sequer se dirigiu a ela. Nem pelo préprio marido. Gabriel nunca a enxergou de verdade. E por cinco anos... Ela acreditou que o problema era dela. Mas agora, via com clareza. Agora, sabia que nunca esteve errada. Ela era bonita. E nao precisava de Gabriel para saber disso. Aqui, homens a cortejavam. Mas nenhum a rebaixava e tentava controla-la. Pelo contrario. Eles a respeitavam. Elogiavam seu sorriso, sua voz, seu talento. Diziam que sua presenga era serena, como a luz da lua. Ela era talentosa. E sua arte tinha valor. ---- Sua exposicao foi um sucesso. Seus quadros foram disputados. Até seus pratos eram elogiados. Tanto que um vizinho insistiu para que ela o ensinasse a cozinhar. Ela finalmente enxergava... Nao era insuficiente. Apenas viveu tempo demais numa prisao onde a fizeram acreditar nisso. Mas agora... Ela estava livre. Finalmente cercada de pessoas que a amavam. A exposicao de Marilia chamou atenção localmente. Os jornais publicaram seu nome. Mas tudo em veiculos estrangeiros. Além disso, era seção de arte. E Gabriel. Nunca leu uma noticia sobre arte na vida. Ele desprezava artistas. Achava que eram parasitas da ---- sociedade, que vendiam "lixo superfaturado para otarios." Entao, por que ele notaria? Por que ele saberia onde ela estava? Até mesmo se descobrisse... Importaria? Talvez, ja estivesse casado com Dalia, jaa tivesse esquecido. Mas Marilia estava errada.
