---- Capitulo1 Após acomodar a urna com as cinzas da mae, Marilia Moreira recebeu uma ligacao da tia. - Marilia, sua mae ja se foi... Vocé vai ficar sozinha ai? Fico preocupada. Que tal vir morar comigo? Marilia permaneceu em siléncio por um longo tempo, como se estivesse tomando uma das decis6es mais importantes de sua vida. Então, respondeu com solenidade: - Vou sim. - Sério? Vocé quer mesmo vir? Que maravilha! - A voz da tia transbordava felicidade. - Mas... ouvi dizer que vocé se casou ai em Cavéria. Seu marido esta disposto a ir com vocé para o exterior? Ao ouvir isso, Marilia sorriu. ---- - Nao se preocupe. Estamos prestes a nos divorciar. Ainda segurava o celular quando um burburinho do lado de fora chamou sua atenção. Gabriel estava de volta. Ela ergueu levemente os olhos para a porta, mas, diferente de outras vezes, nao se levantou para recebé -lo. Nesse momento, Clarisse, irma cacula de Gabriel Macedo, entrou com um sorriso petulante nos labios. - Meu irmao trouxe a Dalia de volta. Logo, logo, essa impostora aqui vai ser expulsa! Marilia franziu sutilmente a testa. - ...Impostora? Clarisse sorriu ainda mais, saboreando cada palavra: - Assim que vocé vir a Dalia, vai entender. Assim que terminou de falar, Gabriel entrou na casa, trazendo Dalia Oliveira ao seu lado. O motorista veio atras, carregando malas e mais ---- malas. Dalia, por sua vez, segurava um enorme buqué de rosas vermelhas, vibrantes, chamativas. A intensidade da cor feriu os olhos de Marilia, fazendo-os arder involuntariamente. Ele ainda teve tempo de comprar flores para ela. Cinco anos de casamento. E ele nunca lhe deu sequer uma tinica flor. - A Dalia acabou de voltar para o pais e ainda nao encontrou um lugar para ficar. Vai passar um tempo aqui em casa. - Gabriel nao olhou nem por um segundo para Marilia. Seus olhos estavam cravados em Dalia. - Arrume o quarto de héspedes ao lado do meu. Ela vai ficar 1a. Nao era um pedido. Era uma ordem. Como se eles nao fossem marido e mulher. Como se ela nao fosse nada além de uma empregada, obrigada a preparar um quarto para a nova héspede, sem sequer ser consultada sobre isso. - Gabi, eu mesma posso limpar. Nao precisa incomodar a Marilia. - Dalia levantou o rosto, e ---- Marilia finalmente viu seu rosto pela primeira vez. Ela congelou. Foi como levar um choque elétrico, todo o seu corpo ficou rigido, incapaz de reagir. Naquele instante, entendeu o que Clarisse quis dizer com "Impostora". Dalia tinha um rosto incrivelmente parecido com o dela. Enquanto Marilia carregava uma serenidade discreta, Dalia exalava a altivez de quem sempre foi tratada como especial. Entao era isso... Marilia riu. Uma risada silenciosa, entrecortada pelo gesto quase imperceptivel de enxugar uma lagrima no canto dos olhos. Agora tudo fazia sentido. Sempre fora azarada. A sorte nunca esteve ao seu lado. Nem mesmo no dia do seu aniversario, quando perdeu a tinica pessoa que realmente a amava: sua mae. ---- Era 6bvio... Como poderia, uma pessoa como ela, ter sido escolhida por um herdeiro de familia rica depois de um simples encontro por acaso? Era impossivel. Agora tudo estava explicado. Ela nao passava de uma substituta. - Tachorando por qué? Qual é, Marilia, sério mesmo? - Clarisse debochou. - A Dalia só vai ficar aqui por uns dias e ja ta nesse drama todo? Nossa, que egoista! Marilia sacudiu a cabeça rapidamente. - Nao... Nao tem nada a ver com a Srta. Dalia... Mas antes que pudesse terminar a frase, os olhos de Dalia se encheram de lagrimas. - Melhor eu ir embora... Nao quero ser um problema para vocés dois. O rosto de Gabriel se fechou na hora. - Vocé nao vai a lugar nenhum. - Ele a segurou e decretou, com firmeza absoluta: - Quem manda aqui ---- sou eu! Levem as malas para cima! O motorista hesitou. Levantou os olhos para Marilia, esperando alguma reacao. Gabriel percebeu e também virou o olhar para ela. - Algum problema? - A pergunta veio carregada de ameaca. Marilia sustentou o olhar dele por um instante. Depois sorriu, os olhos ainda vermelhos. - Nenhum. Seja bem-vinda, Srta. Dalia. Claro que nao tinha problema. Ela estava prestes a ir embora. E quando saisse, seria para sempre.